terça-feira, 9 de outubro de 2012

Olimpíada de Língua Portuguesa


A Olimpíada de Língua Portuguesa mais uma vez oportunizou um trabalho criativo e bastante produtivo. Os alunos do 8º B e C e do 9º B, período vespertino com orientação da professora Gil, realizaram as atividades propostas nas oficinas e produziram excelentes trabalhos.  

Conheçam os dois textos selecionados pela Comissão Escolar para representar a nossa escola. 

Texto 1 (Crônica) - Aluna: Maria Victória – 9º B - Vespertino

 Laçada

Não sou de fazenda, nem melhor amiga da natureza e muito menos ando a cavalo, mas amo ver as tradicionais laçadas que fazem minha pequena cidade pular de emoção.
Espero ansiosamente por esse evento que é quase obrigatório. Meu lugar é na arquibancada, sou espectadora fiel deste show que, para mim, resgata nossas raízes, valoriza as tradições, é a herança do lugar.
Aguardo a entrada do laçador, caboclo nato, vestindo sua armadura e seu orgulho campeiro, montado em seu cavalo e usando chapéu de cowboy. Passo toda minha energia para ele, quero compartilhar esse momento tão importante, sei que a energia do público também ajuda a fazer o espetáculo.
Quando a luz abaixa, a areia sobe, locutor solta a voz, gritos ecoam na pista, pessoas agarram-se nas grades e nos postes, fazem o máximo que podem só para ver o protagonista da noite. A porteira se abre, a batalha se inicia, o bezerro é solto, o laço canta, o cavalo dança e o laçador não se cansa. 
Neste momento, a chuva aparece como convidada inesperada da noite, talvez venha avisar que Deus está torcendo pelo o nosso herói. E na rapidez do tempo, o bezerro já está no chão, imóvel e com o laço enrolado nas guampas. Vejo a alegria no rosto do laçador e fico extremamente feliz.
Na entrada da arena, imagino uma placa com esta mensagem: “Esqueça-se da vida!’’, pois quando meu  pé direito encosta o chão, os problemas vão embora, todas as preocupações somem e uma sensação de bem estar me domina. Olho em volta, muitas pessoas parecem se despir das suas roupas sérias do dia a dia para curtirem a festa como se não houvesse amanhã.
O espaço é para todos: crianças, jovens e adultos. É o espaço do peão e do patrão. Todos têm um objetivo a realizar, uns vão para paquerar, outros para namorar, espairecer, conhecer seus ídolos. Há também aqueles que vão para beber até cair.
São três dias de festa, suor e animação, são três dias feitos para colocarmos a nossa bota e a nossa melhor roupa. A música anuncia que é a hora de encher o salão e dançar até as pernas dizerem que estão cansadas.
São três dias cultivando nossas raízes sul-mato-grossenses, o sertanejo bruto, o sertanejo de raiz, as danças a dois, as nossas tradições passadas de pai para filho.
Quando o dia pula da cama nos avisa que a festança já está no fim e que devemos ir para casa, mas não me abala porque sei que no outro ano terá de novo e vou receber a laçada com um sorriso no rosto, na alma e no coração.


Texto 2 ( Memórias literárias) -  Aluno: Daniel – 8º ano B - Vespertino

 Frutos de uma vida

Houve uma época em que eu ficava mudando de lá pra cá, vivia sem rumo e, a cada mudança, meus amigos iam ficando para trás. Senti, então, que precisava criar raízes.
Era o ano de 1966 quando vim para Amambai. Naquela época as ruas ainda eram todas de terra e recém estava inaugurando um cinema, que hoje, infelizmente, não existe nem no pensamento de quem viu e muito menos de quem não viu. Penso que com a chegada de um aparelho estranho, com o nome de televisão, as pessoas podiam ficar em casa assistindo seu filme, tomando seu mate ou um doce cafezinho bem quentinho. Assim, o cinema se rendeu a comodidade.
Este pedacinho de terra, bem ao sul do velho Mato Grosso, ajudou a resgatar muitas lembranças do meu tempo de criança e que morava na fazenda. Foi uma infância de muito trabalho, nem sempre podia brincar, mas quando tinha uma folga...Que maravilha! Eu e meus irmãos chegávamos a rolar no barro, fazíamos guerrinha com qualquer coisa e, em um desses momentos de travessura, eu me arrependo de ter atirado um balão com urina no meu irmão. Nossa! Lembro-me como se fosse hoje, o danado desviou e eu acabei acertando no meu velho pai, apanhei tanto que nem sentar conseguia.
Não esqueço também do velho cavalo que eu e meu pai encontramos no meio do mato. O bicho estava morrendo, nós o salvamos e botamos o nome dele de Biribinha. Ele era tão feio que até as moscas fugiam de sua presença, mas em cima dele eu me sentia um galã dos antigos filmes.
Certo dia, eu e meu cavalo fomos ao plantio de melancia do Seu Vicente, um vizinho meio bravo e, então, sabe aquela história de juntar a fome com a vontade de comer? No outro dia, o dono do plantio foi lá em casa bem cedinho para falar com meu pai. Fiquei com tanto medo que pensei em fugir, mas logo descobri que não seria necessário. Seu Vicente queria apenas que eu fosse trabalhar para ele. É claro que aceitei o emprego, mas todo dia que ia trabalhar, ficava com receio de que descobrisse sobre as melancias. No fundo, acho que ele sempre soube.
Quando o Biribinha morreu, fiquei muito triste, pois para mim ele era importante. Meu pai o enterrou, mas todo dia eu o desenterrava, porque não aguentava a saudade do meu melhor amigo. Fiquei o desenterrando até não aguentar mais o cheiro. Diante de tal desespero, aquele foi meu primeiro e último cavalo.
Como vim de uma família pobre, não tive oportunidade de estudar, meus pais diziam que eu perderia muito tempo dentro de uma sala de aula, por isso o que aprendi não foi nos bancos da escola.
Graças a Deus, aqui em Amambai eu pude trabalhar e progredir com a cidade. Cheguei até a construir e ser dono de uma fábrica de artefatos de cimento. Na época, fiz um grande e inesquecível amigo de nome Sebastião ou, como o chamávamos, Bastiãozinho. Ele usava um chapéu e uma camiseta igualzinha a do Seu Madruga do seriado Chaves. Nós íamos de um lado para o outro trabalhar com cimento. Ô tempo bom!
Trabalhei muito em fazendas aqui do município fazendo poços, tubos, bebedouros, caixas d’ água. A matéria-prima era sempre o cimento. Em cada fazenda que íamos, eu e meus parceiros de trabalho colocávamos apelidos nos fazendeiros. Um deles tinha o papo tão grande e vermelho, que botamos o nome de sapo com caxumba; tinha também o véio das botas, o barriga torta, o perna de pau e muitos outros. Nós éramos felizes, e hoje só nos restam lembranças do que já passou.
Quando a idade foi me avisando que estava na hora de me aposentar, dediquei-me a construir um pequeno patrimônio: um predinho de dois andares e mais três casas.
Hoje sou aposentado e vivo tranquilo colhendo os frutos de uma vida de trabalho. Todo dia levanto cedinho, preparo um cafezinho, converso com minha velha e vou sentar lá na área de casa. Fico lá, sentado e olhando para a rua. E posso lhe dizer uma coisa: aqui passei os melhores e piores momentos da minha vida, e disso não me arrependo nem um pouco, sei que hoje estou velho e que posso morrer a qualquer momento, mas também sei que meu objetivo foi cumprido. E quando Deus me chamar, tenho certeza de que irei para um lugar muito bom, onde viverei eternamente.

(Texto baseado na entrevista feita com o Sr. José Luís Alves, 73 anos)